segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

O Mordomo Da Casa Branca

                                         
                O pequeno Cecil Gaines causou a morte do pai nos anos 1920 e viu sua mãe enlouquecer. Daí em diante, mudou sua maneira de agir, como se tivesse entendido o mundo dos brancos: "Sobrevivemos nele", dizia o pai. Mais tarde, já dominando a "arte" de ser invisível, de se antecipar ao que "eles" querem e, principalmente, ter duas caras, o jovem que aprendeu a servir na "casa grande", torna-se o mordomo oficial do presidente dos Estados Unidos e por lá fica durante mais de 30 anos. Mas ser tão obediente na Casa Branca trouxe consequências na casa do negro.
                A trama se baseia livremente na história de Eugene Allen, mordomo negro que serviu presidentes na Casa Branca de 1952 a 1986. Embora utilize como base uma reportagem publicada no jornal Washington Post  em 2008, o filme muda o nome do mordomo e ficcionaliza passagens de sua vida. Allen não cresceu num campo de colheita de algodão no Sul nem teve um filho Black Panther, como o filme mostra, mas de fato ganhou uma gravata de Jacqueline Kennedy e foi convidado pelos Reagan a um jantar oficial na Casa Branca.
               E temos Oprah... Afinal, não tem como falar de O Mordomo sem falar dela, figura onipresente em toda a divulgação do filme, razão por trás de todo o burburinho, com histórias sobre como sofreu e ainda sofre racismo, e que segundo "especialistas" já está com a mão em seu primeiro O
scar. Uma pena que não tenha levado anos atrás por A Cor Púrpura (The Color Purple, 1985). Aparentemente ela tinha alguma história mais interessante, mas como não lutava pelos direitos dos negros, nem trabalhava na casa branca, só recebemos pequenos lampejos de seu alcoolismo, ou de qualquer desvio, quando seu destino é cruzado com o dos homens. Caso clássico de personagem feminino que vive as margens dos masculinos, porem vi muita coisa de especial na interpretação, ela esta livre e sendo sincera em suas lagrimas, dizeres, força...
              Lee Daniels pega pesado e confesso que gosto disso. Com Preciosa (2009) fez litros de lágrimas jorrarem dos olhos de plateias do mundo todo ao contar a história da menina negra, pobre, obesa, abusada e grávida de seu segundo filho. Agora com O Mordomo da Casa Branca, carrega igualmente nas tintas, mas sem o mesmo brilho e vigor.
Assim, o trio formado por Forest Whitaker, Oprah Winfrey e David Oyelowo sustenta o longa durante toda a projeção. Forest Whitaker está extraordinário no retrato do protagonista ao longo de décadas, uma interpretação repleta de consciência corporal e, ao mesmo tempo, singela em pequenos sinais que revelam por completo a personalidade de um homem cheio de dignidade e com um senso de responsabilidade incomensurável. Whitaker é a grande razão do filme existir e faz por onde através de um desempenho cortante e profundamente dedicado, sem soar over em momentos cruciais, como nas passagens em que o personagem alcança uma certa idade ou nas discussões que trava com o filho Louis. Igualmente marcante é a interpretação de Oprah Winfrey, mostrando que os anos longe do cinema não enferrujaram seu talento para as artes dramáticas. Como Gloria, Oprah nos apresenta uma mulher dedicada à família, ao casamento e que passa a desenvolver uma carência afetiva a partir do momento em que Gaines começa a trabalhar na Casa Branca. A solidão de Gloria é compensada com muito cigarro e, principalmente, bebida. O mais exitoso na performance de Winfrey é que ela administra com muita sutileza o drama da sua personagem, evitando o estereótipo da mulher alcoólatra e queixosa com o marido. Por fim, David Oyelowo tem algumas das melhores cenas do longa com Whitaker, carregando em sua expressão uma revolta crescente à discriminação e estado de segregação racial no país. Louis é pura ideologia, tendo muito pouco tempo para preocupar-se com os sentimentos dos seus pais, algo que lhe vêm à consciência momentaneamente.

Nota 10

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